O FINAL DA DINASTIA HAN

O FINAL DA DINASTIA HAN: A MEDICINA INTERNA CHINESA

Zhang Zhong Jing viveu de 150 a 219 da nossa era e é descrito como o “sábio da medicina”. O médico nasceu no distrito de Nanyang, província de Henan, região central da China ao sul de Beijing. No ano de 198 escreveu o Shang Han Lun, o tratado sobre as doenças induzidas pelo frio, e um segundo trabalho mais tarde: o Jin Gui Yu Han Yao Lue ou  sumário dos elementos mais importantes do baú dourado e do recipiente de jade. Ambos os trabalhos fazem parte da assim chamada Medicina Interna Chinesa onde o ênfase está no uso das drogas, a maioria delas plantas medicinais, de acordo com o diagnóstico pelo pulso. Birch e Felt afirmam:

“O Shang Han Lun classifica a evolução das doenças epidêmicas em seis níveis e descreve o tratamento específico para cada estágio. Os tratamentos se baseiam em várias substâncias medicinais colocadas juntas em uma decocção seguindo os princípios do Yin-Yang. Cada substância pode ser modificada de acordo com as manifestações observadas junto ao leito do paciente. O texto possui algumas breves referências a aplicação de agulhas inclusive a utilização do método wei jiu de agulhar com aquecimento, podendo ser a origem das técnicas modernas de agulhas aquecidas por meio de moxas. Por fim, Zhang Zhong Jin teve um efeito profundo e duradouro na prática e no desenvolvimento da farmacologia chinesa…”( Birch e Felt, 2002: 26)

Outro importante médico do final da dinastia Han foi Hua To que nasceu na província de An Hui, próximo a Shanghai, em aproximadamente 110 D C. O médico tornou-se famoso devido aos procedimentos cirúrgicos e anestésicos que utilizava, pela sua habilidade no diagnóstico e pela criação de uma série de exercícios físicos para promover a saúde. Svoboda e Lade afirmam com relação as práticas cirúrgicas de Hua To:

“Uma interessante figura deste período foi Hua To ( 110 a 208 D C), que é reverenciado como médico e cirurgião brilhante, e também como criador de diversos exercícios físicos taoístas ( Dao Yin), especialmente o sistema baseado nos movimentos de cinco animais. Os relatos de suas técnicas cirúrgicas têm notável semelhança com os métodos cirúrgicos expostos nos textos ayurvédicos, em especial o uso de um preparado a base de cânhamo (ma fei san) para gerar um efeito analgésico no paciente antes da operação. Provas circunstanciais indicam de fato que Hua To, muito provavelmente, Assimilou ao menos algumas de suas habilidades de fontes indianas.”

( Svoboda e Lade, 1995; 83)

Esta interessante colocação  pelos autores peca por não fornecer as referências bibliográficas as “provas circunstanciais” indicando a influência das práticas de Hua To pela tradição cirúrgica indiana, provavelmente mais antiga que teve como principal expoente, um médico cirurgião chamado Sushruta que deu o nome ao tratado mais antigo de cirurgia que chegou aos nossos dias: Sushruta Samhita.

O Shen Nong Bemcao Ching ou Clássico da Medicina Herbácea foi provavelmente compilado durante a dinastia Han e parece ter recebido alguma influência de fontes ocidentais a China. Hoize e Hoize afirmam:

….”a expansão política e o crescimento das relações comerciais durante a dinastia Han introduziu na China novas plantas como a alfafa e a videira de “xiyu”, ou seja paises ocidentais, isto é regiões situada a oeste do oásis  Dunhuang na estrada da seda…” (Hoizey e Hoizey, 1993: 40)

A famosa Estrada da Seda, por onde haviam as trocas comerciais, caminhava em direção ao ocidente e tinha um ramo que chegava diretamente no sul da Ásia, região do

subcontinente indiano. A tradição do uso de plantas medicinais na Índia é muito antiga e remonta do terceiro milênio A C, logo as trocas podem ter acontecido nos dois sentidos pois ambas as tradições, chinesa e indiana, têm  farmacopéias muito ricas com a descrição de centenas de plantas medicinais para o uso terapêutico. Hoizey e Hoizey afirmam:

“O Shen Nong BenCao Ching ou o Clássico da medicina Herbácea foi  compilado durante a dinastia Han, provavelmente em algum momento no primeiro século D C. Ele introduziu um novo termo, Benção, literalmente erva essencial, e listou 365 drogas: 252 plantas medicinais, 67 de origem animal e 46 de fontes minerais…”(Hoize e Hoize, 1993:40)

Prof. Dr. Aderson Moreira da Rocha

Médico de família, reumatologista, especialista em acupuntura pela Associação Médica Brasileira e especialista em Ayurveda pelo Arya Vaidya Pharmacy e Associação Brasileira de Ayurveda. Mestre e doutor em Saúde Coletiva pelo Instituto de Medicina Social da UERJ e presidente da Associação Brasileira de Ayurveda.